Com o regresso dos mais pequenos às creches e infantários, voltaram as tão comuns “viroses”. Têm sido muito frequentes no Serviço de Urgência as crianças com gastroenterite aguda, uma das infeções mais comuns nesta faixa etária. Saiba o que é e como poderá ajudar o seu filho.
A gastroenterite aguda é uma infeção do sistema digestivo (estômago e intestino), na sua maioria provocada por vírus, sendo o rotavírus o agente mais frequente na Europa. Pode resultar ainda da infeção por bactérias, após ingestão de água ou alimentos contaminados.
O sintoma mais frequente é a diarreia (alteração da consistência das fezes).
As crianças podem ainda apresentar náuseas, vómitos, dor abdominal, perda de apetite e febre. A duração dos sintomas é de aproximadamente uma semana, mas a diarreia e a perda de apetite podem prolongar-se por mais tempo.
Com os vómitos e a diarreia, as crianças não se alimentam e simultaneamente perdem grande quantidade de líquidos e eletrólitos. Assim, a criança fica exposta a grande risco de desidratação, desequilíbrios iónicos e hipoglicémia (baixa de açúcar no sangue).
A prevenção da gastroenterite aguda e das suas complicações assenta em algumas medidas essenciais como o aleitamento materno, uma nutrição adequada, medidas básicas de higiene (lavagem das mãos), a diminuição da contaminação dos alimentos (controlo da qualidade da água, por exemplo) e a vacinação.
A gastroenterite aguda é de transmissão fecal-oral, assim é de extrema importância uma boa higienização das mãos e evitar a partilha de objetos contaminados.
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida protege as crianças pequenas através da passagem de anticorpos maternos e da redução da ingestão de alimentos potencialmente infetados.
A vacina anti-rotavírus é uma vacina oral que existe no mercado português e que integra o Programa Nacional de Vacinação desde outubro de 2020. Esta não previne na totalidade que uma criança que a tome venha a ter uma gastroenterite aguda (quer por rotavírus ou outro agente), no entanto reduz a sua gravidade e como tal o risco de complicações, de internamentos e a mortalidade associada às gastroenterites por rotavírus.
Na maioria dos casos, como doença viral que é, o tratamento assenta no alívio dos sintomas e na prevenção da desidratação.
Em caso de dor abdominal e/ou febre deve dar um analgésico como o paracetamol.
Pela perda de água e outros eletrólitos pela diarreia, deve reforçar a hidratação da criança oferecendo um soro de hidratação oral (à venda nas farmácias) várias vezes ao longo do dia, e cerca de 50 – 100 ml após cada episódio de diarreia.
Em caso de vómitos frequentes, a criança deve realizar uma pausa na alimentação. Após melhoria, deve ser oferecido o soro à colher (máximo: 1 a 3 colheres de chá) em intervalos de 5 a 10 minutos até deixar de vomitar.
Os probióticos (contendo Lactobacillus rhamnosus e Saccharomyces boulardii) podem ser administrados de forma a repor a flora intestinal, estando associados a diminuição da duração da diarreia e da gravidade dos sintomas.
Por norma não é necessário antibiótico. Este está reservado apenas para alguns casos particulares de crianças com gastroenterite aguda bacteriana.
O mais importante é reforçar a hidratação com líquidos e soro de hidratação oral.
A alimentação habitual deve ser retomada o quanto antes, de forma fracionada, respeitando o apetite e gostos da criança, não forçando a comer.
Em caso de bebés pequenos alimentados com leite materno, deve manter o leite materno em livre demanda.
Se bebé for alimentado por leite de fórmula, prepare-o como habitual (sem diluir), oferecendo menores quantidades em cada refeição, mas de forma mais frequente.
Nas crianças maiores, retome a alimentação habitual do seu filho, dando preferência aos alimentos que ele mais gosta. Contudo, procure evitar alimentos ricos em fibra como legumes verdes e a laranja, alimentos açucarados (refrigerantes) e gordurosos.
Na maioria dos casos, a gastroenterite é uma doença ligeira e autolimitada, não sendo necessária a observação médica. Contudo há algumas situações que devem motivar a ida ao Serviço de Urgência como:
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A Doutora Marta Mesquita é formada em Medicina pela Universidade de Coimbra, sendo especializada em Pediatria Médica. Atualmente, exerce funções no Centro Hospitalar do Baixo Vouga.